Nunca demita um denunciante: o papel da liderança na proteção de quem tem coragem de falar
Empresas modernas dizem prezar pela ética, pela integridade e por ambientes de trabalho saudáveis. Mas quando uma pessoa tem coragem de denunciar algo errado, como assédio, discriminação ou fraude, o que acontece com ela? Em muitos casos, infelizmente, a resposta é: ela é demitida.
A ausência de proteção ao denunciante é uma prática é mais comum do que se imagina, e além de imoral, é ilegal. Quando uma empresa pune quem denuncia, envia uma mensagem clara e perigosa: “se você falar, vai pagar o preço”. O efeito é devastador para a cultura organizacional e para a confiança da equipe.
Neste post, vamos mostrar por que a proteção ao denunciante é um dever ético e estratégico da liderança — e como casos reais mostram as consequências de ignorar esse princípio.
O que é proteção ao denunciante?
A proteção ao denunciante (ou whistleblower protection, em inglês) é o conjunto de práticas e medidas legais e organizacionais que garantem que uma pessoa possa relatar irregularidades com segurança. Ela visa evitar retaliações e garantir que o ato de denunciar não comprometa a carreira do profissional.
A legislação brasileira, especialmente com a Lei nº 13.608/2018 e o canal de denúncias previsto na Lei Anticorrupção, já prevê algumas garantias. Mas o que está na lei precisa se tornar parte da cultura das empresas — e isso depende, em grande parte, da liderança.
Casos reais de demissão após denúncia
Para entender a gravidade do tema, vejamos três casos noticiados pela imprensa em 2024. Todos envolvem retaliações contra quem ousou denunciar comportamentos inadequados.
1. O jornalista demitido após denunciar assédio
Em um dos casos mais emblemáticos do ano, um jornalista da Record TV foi demitido após denunciar assédio sexual por parte de um diretor da emissora. A Justiça entendeu que a demissão foi retaliatória, e determinou a reintegração imediata do profissional ao quadro da empresa.
Segundo a Folha de S.Paulo, o juiz considerou que havia elementos que ligavam a dispensa à denúncia, e que o jornalista foi alvo de perseguição por expor o caso. A decisão reforça a importância de proteger quem denuncia — e mostra que a Justiça está atenta a essas violações.
2. A funcionária indenizada por assédio em Goiás
Em setembro, uma ex-funcionária de uma empresa varejista em Goiás ganhou na Justiça o direito de receber uma indenização de R$ 71 mil após sofrer assédio moral e sexual por parte de um superior. Ela foi demitida logo após relatar o caso, o que agravou ainda mais a situação.
Segundo o G1, a funcionária relatou que passou a se sentir mal fisicamente e emocionalmente, e que a demissão trouxe vergonha e sensação de impunidade. A decisão judicial reconheceu que houve abuso de poder e que a empresa falhou gravemente em proteger a denunciante.
3. O caso da empresa condenada por retaliação
Outro caso ocorreu em São Paulo: uma profissional denunciou assédio no ambiente de trabalho (um resort de luxo) e, poucos dias depois, a empresa a demitiu. Em primeira instância, o pedido de indenização por danos morais foi indeferido porque o juízo considerou que o ato ocorreu uma única vez, o que não teria a reiteração necessária para configurar assédio sexual.
Porém, quando a vítima recorreu, a Justiça do Trabalho apontou como omissão a manutenção do emprego do agressor e a demissão da vítima. Assim, considerou a demissão nula e condenou a empresa a indenizá-la por danos morais. A decisão serve de alerta para empresas que tentam silenciar suas vozes internas.
Por que a proteção do denunciante é responsabilidade do líder?
Em vez de silenciar, punir ou isolar quem denuncia, líderes têm o dever de criar ambientes seguros e confiáveis. Isso significa:
- Tratar toda denúncia com seriedade e confidencialidade
- Investigar os fatos de maneira imparcial
- Proteger o denunciante de retaliações diretas ou indiretas
- Comunicar à equipe que a denúncia é um direito, não uma traição
O líder que falha em proteger quem denuncia não apenas viola princípios éticos e legais, mas também compromete a cultura organizacional, afeta a motivação da equipe e aumenta o risco jurídico da empresa.
Como o coaching pode ajudar na proteção do denunciante?
Coaching executivo ou de liderança pode ser um importante aliado na construção de uma cultura organizacional mais ética, madura e responsável. Líderes preparados tomam decisões mais conscientes, sabem ouvir e lidar com conflitos, e são capazes de promover ambientes onde o respeito prevalece.
Além disso, programas de coaching ajudam a desenvolver competências como empatia, comunicação assertiva e inteligência emocional — todas essenciais para lidar com denúncias de forma justa e estratégica.
A proteção ao denunciante é uma medida de integridade, coragem e visão de longo prazo. Empresas que ignoram essa prática correm riscos — legais, reputacionais e humanos. Já aquelas que valorizam a transparência e protegem quem denuncia mostram que estão prontas para crescer com consistência e responsabilidade.
Se você lidera uma equipe ou atua na gestão de pessoas, vale a pena refletir: como sua empresa reage a quem tem coragem de falar? A forma como você responde a essa pergunta pode dizer muito sobre a maturidade organizacional do seu time.
Na Optimus Coaching Solutions, apoiamos líderes e organizações que desejam construir ambientes éticos, saudáveis e sustentáveis.
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